Atualmente, vivemos uma era crítica, onde as mudanças climáticas causadas pela ação do homem geraram uma crise ambiental sem precedentes. Eventos climáticos extremos, como a enchente que testemunhamos no Rio Grande do Sul serão cada vez maiores e mais frequentes. Diante disso, o desenvolvimento e utilização de tecnologias e práticas sustentáveis são essenciais para a proteção do meio ambiente, visando resguardar a existência das gerações futuras.
Num contexto de transição energética, a importância das atividades de uma economia de “zero carbono” se torna evidente, fomentando o crescimento econômico e a criação de empregos em setores emergentes dessa nova “economia verde”. Assim, a abordagem Ambiental, Social e Governança (ASG do inglês ESG – Environmental, Social, and Governance) surge como uma ferramenta fundamental para promover a sustentabilidade nas empresas.
Em termos ambientais, ASG foca na adoção de práticas ambientalmente adequadas pelas empresas, com o intuito de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a degradação ambiental. Essas práticas envolvem políticas de autossuficiência energética, com a implementação de geração de energia por fontes renováveis (como a eólica, a fotovoltaica ou a proveniente da biomassa), além de políticas de melhoria da eficiência operacional, com a racionalização no uso dos recursos e reaproveitamento de resíduos e/ou subprodutos.
Em termos sociais, ASG foca na adoção de práticas de negócios socialmente responsáveis, englobando relações justas de trabalho (também expansíveis para questões de diversidade e inclusão) que garantam um ambiente saudável a todos os colaboradores, além da priorização de uma relação de respeito com todos os stakeholders (clientes, concorrentes, investidores, fornecedores e funcionários) e com a sociedade em geral, a partir de iniciativas de desenvolvimento local e de engajamento com a comunidade onde a empresa se insere.
Já a Governança envolve um conjunto de práticas e normas que estabelecem as diretrizes de atuação das empresas, visando garantir que o negócio seja conduzido de maneira ética, responsável e transparente. O respeito às questões éticas, o atendimento às regulamentações (contábeis, ambientais, trabalhistas e/ou do setor onde a empresa atua) e a gestão de risco do negócio tecem um arcabouço de governança sólido, ganhando a confiança de investidores e consumidores, o que ajuda na perspectiva de existência de longo prazo (perenidade) da empresa.
Estudos recentes têm demonstrado que o investimento em práticas ASG são motores do desenvolvimento das empresas, sendo precursores da inovação tecnológica corporativa. O esforço depreendido para atender às exigências estabelecidas pela adoção de um arcabouço ASG faz com que as empresas melhorem sua eficiência gerencial em vários aspectos e nos diversos níveis organizacionais, seja no nível operacional, tático e/ou estratégico. Além disso, a adoção de práticas ASG favorece a aquisição de empréstimos, uma vez que facilita o acesso a linhas de créditos específicas e que, normalmente, apresentam melhores condições em termos de taxas e condições de pagamento. Outras vantagens incluem a melhoria das expectativas de mercado do negócio, a melhoria da imagem da empresa, a melhoria na atração e retenção de talentos para a organização e a maior resiliência da empresa a ruídos geopolíticos em termos de cotação de mercado.
No contexto ambiental, as empresas brasileiras estão em uma situação privilegiada dada a condição climática do país que favorece a viabilidade técnico-econômica da geração de energia distribuída por fontes renováveis. Entretanto, do ponto de vista social e de governança, as recentes denúncias de utilização de trabalho escravo, assim como a fraude fiscal comprovadamente cometida por uma grande empresa do comércio varejista, deixam claro que temos muito a avançar. O Brasil é um país de extensão continental, com uma grande diversidade cultural, climática e econômica, o que dificulta, por si só, a implementação de qualquer política ou ação, seja de iniciativa pública ou privada, de incentivo à inovação em larga escala. Além disso, por sermos um país ainda em desenvolvimento, temos um mercado considerado ainda não maduro. Aliado a isso, o Brasil apresenta diversas carências em setores básicos como saneamento, segurança e infraestrutura, assim como em termos de formação de mão-de-obra qualificada e desenvolvimento tecnológico, o que impede o pleno desenvolvimento do país.
Dentro de um contexto tão desafiador, a busca por justiça social pode se configurar como uma estratégia eficiente para possibilitar o desenvolvimento econômico do país, pavimentando o caminho para a construção de um ambiente mais inovador para as empresas. Assim, adotar práticas ligadas à abordagem ASG pode não só impulsionar a inovação, como também melhorar o bem-estar social, fazendo dessa abordagem um pilar crucial no nosso caminho rumo a um planeta mais saudável e sustentável.
Prof. Dr. Luiz Célio Souza Rocha
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO NORTE DE MINAS GERAIS – CAMPUS ALMENARA
Leitura Adicional:
– SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS ASG E A INOVAÇÃO NAS EMPRESAS:
1. YANG, Xiangyang et al. ESG performance and corporate technology innovation: Evidence from China. Technological Forecasting and Social Change, v. 206, p. 123520, 2024.
2. ZHOU, Hailing; LIU, Ji. Digitalization of the economy and resource efficiency for meeting the ESG goals. Resources Policy, v. 86, p. 104199, 2023.
– SOBRE A GERAÇÃO DISTRIBUÍDA DE ELETRICIDADE POR FONTES RENOVÁVEIS NO CONTEXTO BRASILEIRO:
1. ROCHA, Luiz Célio Souza et al. A stochastic economic viability analysis of residential wind power generation in Brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 90, p. 412-419, 2018.
2. ROCHA, Luiz Célio Souza et al. Photovoltaic electricity production in Brazil: A stochastic economic viability analysis for small systems in the face of net metering and tax incentives. Journal of Cleaner Production, v. 168, p. 1448-1462, 2017.