Inovação na adoção dos princípios ESG em uma Instituição Hospitalar

O aumento da competitividade no ambiente corporativo e a busca contínua pelo crescimento lucrativo são fatores que compõe a conjuntura atual do mercado. Para alcançar níveis de notoriedade nesse cenário, há necessidade das organizações extrapolarem as barreiras das conformidades regulatórias consideradas básicas ao setor de atividade e adotarem boas práticas para atender às necessidades das principais partes interessadas, maximizando a criação de valor para os atores internos e externos. Levando em consideração o ambiente complexo em que as instituições atuam, torna-se primordial buscar o equilíbrio entre as prioridades econômicas e os aspectos sociais e ambientais, sendo que uma das alternativas para atingir tal finalidade é a adoção de princípios ESG (Environmental, Social and Governance) nas operações de negócio.
O acrônimo ESG, ou traduzido para a língua portuguesa como ASG, diz respeito ao conjunto de critérios ambientais, sociais e de governança, os quais precisam ser considerados no gerenciamento de riscos e oportunidades, além da avaliação dos respectivos impactos gerados pela atuação organizacional, objetivando nortear ações, negócios e investimentos sustentáveis. Tais critérios são passíveis de serem adotados em todos os tipos e portes de organizações, não se restringindo ao segmento industrial, ademais, instituições com desempenho notável nas práticas ESG aprimoram sua imagem perante à sociedade e aos clientes, proporcionando ganhos de reputação. É válido ressaltar que a lucratividade também é um fator a ser observado no mercado financeiro, colocando fim ao dilema de que ações sustentáveis envolvem a renúncia ao lucro, pelo contrário, para que uma organização seja capaz de investir na sustentabilidade, primeiro deve ser capaz de se sustentar financeiramente.
Tendo em vista tais constatações, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou um documento normativo em dezembro de 2022 a fim de orientar os passos necessários para incorporar os princípios ESG nas organizações, a ABNT PR 2030. Devido à flexibilidade do documento e a importância das instituições hospitalares para promoção do bem-estar e da cura de doenças, direito assegurado pela Constituição Brasileira, torna-se conveniente aplicar esse guia estruturado para aplicar práticas ambientais, sociais e de governança no segmento hospitalar, afinal, para que os hospitais sejam capazes de manterem sua atuação de forma ininterrupta, há consumo considerável de recursos do meio ambiente, também geram resíduos altamente contaminantes e embora sejam, em sua essência, socialmente responsáveis, há necessidade de estabelecer estratégias de sustentabilidade em suas operações, estabelecendo como objetivo aumentar a satisfação dos stakeholders, promovendo saúde pública e ambiental por meio da atuação consciente.
Dessa forma, o primeiro passo para estabelecer a jornada ESG na instituição hospitalar é de conhecer o caminho a ser trilhado, ou seja, estabelecer objetivos e metas sustentáveis a serem atingidos, por meio do conhecimento organizacional e da percepção dos critérios materiais envolvidos na atividade da área da saúde. Em seguida, a organização deve que estabelecer em seu planejamento estratégico o compromisso em trazer de forma intencional as práticas ESG em suas atividades, sendo o claro o envolvimento da alta direção e da liderança corporativa nessa etapa. O terceiro passo consiste no diagnóstico, a partir disso, inicia-se o levantamento de práticas sustentáveis, nível de estruturação, recursos disponíveis, processos aplicados, resultados obtidos até aquele momento e indicadores de desempenho. Depois de entender o que já existe na organização, é necessário criar um plano de ação para planejar o escopo ESG da instituição, colocando em prática as ações pendentes para que haja avanço na jornada sustentável. Após implementar as ações planejadas, é essencial medir e monitorar se o que foi idealizado está sendo, de fato, aplicado; os indicadores ESG são imprescindíveis para visualizar a geração de valor ao longo do tempo, permitindo a gestão dos riscos e impactos associados a esse processo. Ao final das ações, é fundamental estabelecer um canal de transparência entre as partes interessadas, relatando e comunicando os avanços da jornada sustentável com os stakeholders.
Seguindo tais etapas, foi possível perceber avanços positivos em relação à jornada ESG. Considerando ao eixo ambiental, verificou-se o fortalecimento do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), dos programas internos de reciclagem e da manutenção da qualidade da água, além da notoriedade das Fichas de Informação de Segurança do Produto Químico (FISPQ) e da gestão de indicadores envolvendo os impactos ambientais, como uso do solo, emissões gasosas, consumo de água e energia elétrica. Foram feitas modificações importantes envolvendo a política ambiental, estabelecendo boas práticas de consumo consciente de água e energia, além da criação de projetos para reduzir o uso de papel nos registros internos e, ao estabelecer relações comerciais, priorizar fornecedores que apliquem critérios sustentáveis em suas operações. Já em relação ao eixo social, houve foco para ações voltadas para os pacientes pautadas em Investimento Social Privado (ISP), apoio educacional para os filhos dos colaboradores e fortalecimento da comunicação interna e externa acerca da política de dignidade e do código de ética organizacional, priorizando o relacionamento com as partes interessadas internas e externas. Os estudos envolvendo o eixo de governança ainda estão em andamento, porém práticas envolvendo a segurança de dados e publicação de relatórios das atividades institucionais no site do hospital já estão sendo aplicadas, favorecendo a transparência das operações.
Assim, é possível perceber que adotar práticas ESG na estratégia institucional é um caminho em construção, porém sem volta. Além disso, a jogada tripla fundamentada na receita, lucro econômico e progresso em ESG tende a trazer retornos notáveis para todos os tipos de organização, fortalecendo o gerenciamento de riscos e oportunidades, o propósito organizacional e geração de valor compartilhado para as partes interessadas.

Dr. Délvio Venanzi
Faculdade de Tecnologia de Sorocaba – FATEC
delvio.venanzi@fatec.sp.gov.br

Vanessa Farinon
Faculdade de Tecnologia de Sorocaba – FATEC
vanessa.farinon@fatec.sp.gov.br


Leitura Adicional:

ABNT PR 2030. (2022). Ambiental, social e governança (ESG) – Conceitos, diretrizes e modelo de avaliação e direcionamento para organizações. ABNT.

DOHERTY, Rebecca; KAMPEL, Claudia; KOIVUNIEMI, Anna; PÉREZ, Lucy; REHM, Werner. Jogada tripla: crescimento, lucro e sustentabilidade. McKinsey & Company, ago. 2023.

Venanzi, D., Orsi, R. J. de S., De Lima, N. S., & Rodrigues, L. N. (2023). A implementação do ESG (Environmental, Social and Governance) no setor de serviços – estudo de caso: Hospital ABC. Revista Caribeña de Ciencias Sociales, 12(3), 1053–1067. https://doi.org/10.55905/rcssv12n3-005

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