Produtividade, recursos humanos, automação, inovação são termos presentes em estudos sobre mercado de trabalho e inovação. É notória a importância de estudos que abordem o mercado de trabalho global, especialmente no que diz respeito a introdução de novas tecnologias no processo produtivo. Mas a adequação do trabalho humano e o uso de máquinas, visando uma produtividade mais expressiva, não é própria ao momento atual, esta discussão sempre esteve presente em estudos sobre o tema e tem sido objeto de análise de organizações que procuram intensificar essa relação, a fim de reestruturar um mercado de trabalho em constante mudança.
Para compreender o futuro do mundo do trabalho, é essencial considerar a capacidade de adaptação às novas relações económicas e sociais, que se alteram à medida que as novas tecnologias são inseridas, forçando a compreensão de novos contextos em constante formação. No contexto produtivo, a balança que agrega recursos humanos e meios tecnológicos nem sempre está em equilíbrio, em nível de igualdade. É cada vez maior o número de corporações que substituem, parcial ou totalmente, os recursos humanos (trabalhadores) por máquinas inteligentes.
Em estudo recente, Kljucnikova e demais autores, discutem o futuro do trabalho nas corporações, e apresentam uma reestruturação pela qual as máquinas inteligentes seriam direcionadas para tarefas mais elaboradas, complexas e rotineiras. Por outro lado, os recursos humanos teriam melhores condições de dedicação às atividades voltadas à inspiração, criação e inovação, em um ambiente de trabalho seguro e, principalmente, preservando sua dignidade. Uma interessante observação feita pelos autores, de certa forma contrariando concepções já cristalizadas, pelas quais haveria uma total substituição da mão de obra pelas máquinas, é que as máquinas inteligentes não irão substituir o trabalho humano e sim complementá-lo, a fim de promover um certo equilíbrio das funções.
Esta proposta de reestruturação teria como consequência imediata uma melhor gestão dos recursos humanos, além de criar as condições adequadas para um aumento significativo de produtividade, pois ambiente de trabalho saudável reflete diretamente no empenho do trabalhador. Amparados em uma densa revisão de literatura, os autores propõem a criação de um modelo competitivo entre recursos humanos e as máquinas inteligentes (Ključnikov, 2023), Nesta proposta, os trabalhadores e tecnologia estariam compartilhando o ambiente de trabalho com o objetivo de agregar competências e torná-lo capaz de atender as demandas do mercado. Os resultados do estudo indicam um caminho contrário a percepção do senso comum, pela qual teríamos a completa substituição da mão-de-obra humana. Algumas das conclusões estão expostas a seguir:
- A reorganização do ambiente de trabalho, considerando que as máquinas inteligentes não irão substituir o trabalho humano e sim complementá-lo, proporcionará uma melhor aceitação por parte dos trabalhadores, impedindo a propagação de “tecnófobos” que temem ou não gostam do desenvolvimento tecnológico e favorecendo uma certa confiança aos “tecnófilos”, que acreditam que a tecnologia poderá ser uma aliada para garantia de um ambiente de trabalho saudável;
- O novo modelo do espaço de trabalho, aliando recursos humanos e tecnológicos, proporcionará maiores oportunidades de engajamento, com potencial crescimento social e tecnológico;
- O aumento da produtividade não está diretamente relacionado ao avanço das máquinas inteligentes no ambiente de trabalho, mas exatamente o oposto, deve-se considerar o investimento nas competências digitais dos recursos humanos, pois, apenas a disseminação maciça da automação não representa, por si só, aumento de receitas. De acordo com o estudo, a má utilização da robótica no processo produtivo terá um efeito contrário, pois em lugar de favorecer poderá retardar a produção, além de gerar um ambiente de descontentamento e insegurança entre os trabalhadores;
- Um grande desafio está presente nas organizações, promover uma adaptabilidade de recursos humanos e automação, visando a complementação e não a exclusão, pois desta junção depende a construção de um novo modelo de ambiente de trabalho, produtivo e gerador de competências e habilidades aos trabalhadores.
Segundo recente relatório da Organização Internacional do Trabalho a automação ainda não representa um risco ao mercado de trabalho na indústria, pois a maioria dos empregos não está sujeita a substituição pelas máquinas inteligentes e é mais provável que sejam complementados pela automação e não substituídos (Gmyrek, 2023). Mas como conciliar recursos humanos e automação, preservando a produtividade e um ambiente saudável de trabalho? Certamente não há uma “receita” para a condução deste modelo, mas cabe aos gestores e trabalhadores decidirem de que forma as máquinas inteligentes irão dividir o espaço de trabalho a fim de se complementarem, assegurando não apenas produtividade, mas também mudanças na qualidade do emprego.
Diante deste contexto, é possível ressaltar que possíveis efeitos da automação, se negativos ou positivos, e qual a sua intensidade nas organizações e no mundo do trabalho dependem muito da condução dos gestores e nas possibilidades de participação e voz dos trabalhadores durante o processo. Talvez este seja o ponto de equilíbrio há tempos buscado.
Profa. Dra. Walkiria Martinez Heinrich Ferrer
Universidade de Marília
walkiriamf@terra.com.br
Leitura Adicional:
Gmyrek, P., Berg, J., & Bescond, D. (2023). Generative AI and jobs: A global analysis of potential effects on job quantity and quality, ILO Working Paper 96 (Geneva, ILO). https://www.ilo.org/static/english/intserv/working-papers/wp096/index.html
Ključnikov, A., Popkova, E.G., & Sergi, B.S. (2023). Global labour markets and workplaces in the age of intelligent machines. Journal of Innovation and Knowledge, 8(4), art. no. 100407.
https://doi.org/10.1016/j.jik.2023.100438