Inovação, Empreendedorismo Feminino e Resiliência

A formalização do empreendedorismo feminino tem crescido no Brasil e já é destaque em agenda de palestras, cursos, artigos acadêmicos e relatórios de pesquisa, bem como presença consolidada no mercado brasileiro de empresas nascentes.
Porém, a presença de mulheres não é tão comum no que chamamos de empreendedorismo de inovação, que é o empreender em projetos que tenham a inovação como cerne do business. Muito porque esse tipo de empreendedorismo é confundido com o de empresas de base tecnológica, área de atuação que não é a “queridinha” das mulheres, dado um contexto social e histórico. Teria também relação com o comportamento empreendedor da mulher? Convido você a refletir sobre.
Dois grupos de fatores têm relação com a intenção de empreender, denominados como push – relacionados à fatores exógenos como, por exemplo, insatisfação com o mercado de trabalho – e pull – são endógenos, como características pessoais. Dentre estas características estão as comportamentais e, quando se trata de empreendedorismo, já estudadas em teoria consolidada na literatura. Em estudo realizado com 418 mulheres, uma delas não se mostrou presente no universo feminino: a persistência. As mulheres se mostram resilientes, enquanto os homens persistentes. Será?
Enquanto a persistência é a capacidade de continuar agindo para se chegar a um objetivo, traz experiência e desenvolve skills. Já a resiliência é a capacidade de superar obstáculos e retomar a forma original para tentar de novo. Ambas são características interessantes para a inovação, sendo a resiliência mais voltada para desafios do dia a dia e a persistência para objetivos de longo prazo.
Neste ponto de vista, fatores pull favorecem mais aos homens pela persistência, porém outros comportamentos como grau de sociabilidade, capacidade de organização e de planejamento estão fortemente presentes nas mulheres participantes da pesquisa, ou seja, o perfil comportamental da mulher no que tange características empreendedoras influencia positivamente na intenção de empreender, a despeito da persistência não ser comportamento predominante.
Em um cenário dominado por homens – no final de 2024 temos 12% de mulheres à frente de startups – podemos, então, avaliar fatores push como importantes para a configuração deste cenário, especialmente contexto social e histórico. Já na década de 1940, durante a Segunda Guerra, as mulheres assumiram várias funções antes exercidas por homens, como trabalho em fábricas e gestão de negócios familiares. Contudo, essa função não foi permanente ou se manteve como secundária após o retorno dos homens às cidades. E, nesse contexto, até hoje temos muitos negócios geridos por mulheres que se mantém na informalidade e não participam, dessa forma, de dados de pesquisa.

Sobre inovação e spin-offs universitárias, temos um contexto social e histórico de que ainda temos um percentual menor de mulheres em faculdades de engenharias, que são celeiros férteis para spin-offs de inovação. Historicamente a participação de mulheres em áreas do saber de exatas é baixa, gerada possivelmente por uma consciência coletiva de não ser área de preferência feminina. Em se entendendo que startups são de base tecnológica, percebe-se pequeno interesse da mulher nesse tipo de negócio que tradicionalmente são do interesse masculino.

Acredita-se que mudanças estão a caminho, com o aumento do número de mulheres à frente de startups, especialmente na área de saúde, educação e alimentos, passando a compreender a inovação não apenas como existente nas empresas nascentes de tecnologia. É também crescente o número de mulheres que ingressam em engenharias, apesar de ainda percentualmente menor do que homens, mas que pode representar uma tendência de se romper determinadas regras sociais devido a mudanças de padrão contemporâneos. Vamos aguardar os próximos dados de pesquisa e que possamos ver cada vez mais mulheres à frente de startups brasileiras.

Dra. Patricia Viveiros de Castro Krakauer
Filiação: Fatec Sebrae
patricia.krakauer@fatec.sp.gov.br


Leitura Adicional:

KRAKAUER, Patricia Viveiros de Castro; MORAES, Gustavo Hermínio Salati Marcondes; CODA, Roberto; BERNE, Davi de França. (2018) “Brazilian women’s entrepreneurial profile and intention”, InternationalJournal of Gender and Entrepreneurship, Vol. 10, Issue: 4, pp.361-380, https://doi.org/10.1108/

MORAIS, M. de O.; MEDEIROS, R. E. de .; FRANCO, E. G. . Female entrepreneurship and innovation: An opportunity for equality and development. Research, Society and Development, [S. l.], v. 13, n. 9, p. e9013946912, 2024. DOI: 10.33448/rsd-v13i9.46912

Comentários da carta

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Mustache